Narrativa escolar
“Não me peça que eu lhe faça uma canção
como se deve, correta, branca, suave, muito limpa, muito leve. Sons, palavras,
são navalhas e eu não posso cantar como convém sem querer ferir ninguém.”
Narrativas escolares são coisas
complicadas de se fazer, tendo em vista que a minha memória, as vezes, pode ser
traiçoeira. Esqueço de conceitos considerados importantes para a academia, mas,
se você me perguntar qual o nome dos primeiros 151 pokemons, vou saber dizer
quase que na ordem certa.
A ideia é relatar uma experiência marcante
na vida acadêmica, de modo que seja evidenciada a avaliação do professor em
questão. Então vamos lá, o ano era 2015,
ainda não tinha entendido direito como tinha que me portar no meio da educação
superior. Todos pareciam tão formais com suas regras, títulos, nomenclaturas,
abnt e afins, e em meio a isto, tinha que aprender a me enquadrar e atender as
expectativas. Pontuo que, uma das coisas que nunca vou conseguir entender é a
cabeça de certos professores, principalmente aqueles que fazem questão de
evidenciar as ‘fraquezas’ dos seus aluno. O relato a seguir segue a linha de um
desse tipo de profissional.
Física, aos que me conhecem, sabem a minha
dificuldade com números. Dificuldade herdada desde os Anos Iniciais da Educação
Básica. Dizem que se você não corrigir suas falhas educacionais, elas viram uma
bola de neve, então, é verdade. Disciplina ministrada por um professor do
departamento de física da UFPB. Muitas vezes, esses professores não tem a
habilidade (ou o menor interesse) de adaptar suas metodologias aos alunos que
não seguem seu padrão, o padrão da turma, era alunos dos cursos de física e eu,
perdido no espaço, literalmente. Sinceramente, as aulas eram exaustivas, o sono
pairava e eu lutava pra não dormir. Nunca gostei de faltar aula, mas, aquelas
lá eram tão tentadoras. Basicamente, a aula consistia em resolução de exercícios
de um livro pouco didático. O curso inteiro era o professor virado para o
quadro limpando as manchas de giz nas suas calças e respondendo às próprias
perguntas em voz alta. A partir desse momento, então temos a avaliação,
altamente clássica, 10 questões, algumas de exercícios feitos em sala, outras
levemente modificadas e outras completamente inventadas. O típico professor
tradicional com um pezinho no tecnicismo.
Os professores dos departamentos de
‘Ciência’ tem a mania de não devolver as provas aos alunos, caso você queira
ver a correção, você deve ir a sua sala conferir. Mas, alguns entregam para uma
revisão rápida em sala, seguida de correção em uma aula posterior. Evento ocorrido
nessa avaliação em questão. Nota: 0. Nunca tinha conseguido uma nota tão baixa
em toda minha vida acadêmica. Mas, a vida é feita de experiências, não é mesmo?
Embora nem sempre sejam das mais agradáveis. Contudo, não bastasse a nota
execrável, o professor fez questão de entregar as provas parabenizando os
heróis e comentando de maneira desnecessária os infortunados. E adivinha só
quem ganhou destaque naquela manhã? Exatamente, eu mesmo.
“- Então, aqui temos um exemplo de completo
sucesso reverso! Esse rapaz conseguiu a proeza de ser o único a responder todas
as questões da prova e sumariamente errar todas. Vamos aplaudir.”
Essa é uma daquelas horas em que eu queria
estar inventando, mas, infelizmente aconteceu. Um pensador popular uma vez
disse: “Nunca pensei que ia ser otário, fui otário.” E foi exatamente como me
senti na hora, um completo incapaz, daqueles que não consegue nem amarrar seus
próprios cadarços. Não vou nem me dar ao trabalho de dizer que meu curso é
integral, exige um bocado, três horários de aulas, fins de semana são feitos
para pôr as atividades em dia, como dizem eles. Entretanto, o cansaço físico e
mental, volta e meia abre os braços e nos acalanta de tal forma, que mesmo
sabendo que esse amor é leviano, insistimos em dar-lhe uma segunda chance.
Resumo da opera: sai da sala e nunca mais voltei. Assim
como defende Leandro Karnal, em seu livro “Conversas com um jovem professor”,
as quatro linhas de força podem afetar o desenvolvimento de uma aula. Tanto o
aluno, quanto o ambiente, você como ser e o conteúdo influenciam no produto
final. Não sei como a disciplina acabou e nem muito menos tenho interesse de
voltar a cursa-la por hora, sempre vou deixando para um futuro breve quando eu,
espero, que esteja mais maduro mentalmente para “segurar essa barra” que é
gostar de aprender.
Desde que entrei na universidade, questões
recorrentes na minha cabeça martelam. Quantos de nós nunca lutamos para sermos
aprovados na escola, universidade, pós-graduação, mestrado, doutorado e afins?
O quantitativo é mais relevante que o qualitativo? Tudo se resume a aprovações?
Será que isso tudo vale a pena? Capitú traiu Bentinho?
Algumas pessoas dirão que não, outras
dirão que sim. Todo esse estresse emocional que se transforma em sintomas
psicossomáticos são péssimos, a saúde não deve ser posta à prova em detrimento
a vã filosofias. O Roberto certamente diria que sim, vale a pena, porque “o
importante é que emoções eu vivi.” E a seguir, deixaria escapar um sorrisinho
maroto daqueles.
Posso afirmar que a única coisa que
aprendi com esses meus não-tão-muitos anos de experiência de vida é que tudo
não passa de aprendizado. Experiências boas e más, ensinam, cada uma a sua
maneira. A água tem estado transitório de matéria. Se você a coloca em um copo,
ela se torna o copo, se você a coloca em uma garrafa, ela se torna a garrafa.
Seja como a água, tenha uma boa capacidade de adaptação sem perda de essência,
pois, ela ainda pode fluir, ou pode bater, dependendo da necessidade.
O que quero dizer é que o mundo não é um
mar de rosas, é um lugar complexo de se viver, as vezes cruel e que está sempre
pronto para lhe botar de joelhos. Você, eu, ou ninguém vai bater tão forte
quanto a vida, mas não se trata de bater forte. Se trata de quanto você pode
aguentar apanhar e seguir em frente, o quanto cada um é capaz de aprender com
as falhas e seguir em frente. Só assim, acredito, que se consegue vencer.
Agora, se você reconhece seu próprio valor, então vá atrás do que merece,
preparado para apanhar. E nada de apontar dedos, dizer que você não consegue
por causa dele ou dela, ou de quem quer que seja. Seja valente, para todas,
para o que der e vier, para sempre e por opção.
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