Que horas são?

Era um dia como outro qualquer, as mesmas coisas aconteciam. A quentura do sol lhe atordoava o juízo, mas o destino ainda lhe reservava algo interessante,  foi num dia comum assim que ela apareceu na minha vida, veio com um sorriso sincero e tímido, com aquela cara de quem não quer nada e me perguntou:

- Moço, você sabe que horas são?

Atordoado pela beleza daquela moça (e pelo calor escaldante), olho o meu pulso e digo:

-exatos meio-dia...

Só não entendi o porquê da pergunta, já que quando desviei o olhar do encontro dos seus, percebi que um belo relógio lhe adornava o pulso. Minha mãe sempre me disse que deveria dar aos outros o que quisesse que me dessem de volta, então, foi por isso que respondi com educação.
Com outro sorriso, ela agradece e vai, até se perder na multidão. Na minha vida, as pessoas vem e vão numa velocidade absurda. Dias se passam, a rotina volta ao normal, o calor volta ao normal, o estresse e tudo mais que o dia-a-dia numa cidade grande pode oferecer, volta ao normal. Mas, a lembrança daquele sorriso não me saia da memória. Não sei te dizer o porquê de ter caído nesse feitiço, só posso dizer que, de certa forma, aquilo me fazia acordar disposto toda manhã.
Outro dia fui numa festa, nem sei porquê fui (na verdade sei, pedro insistiu para que eu fosse, ele é como um irmão pra mim e merece o minimo de consideração da minha parte). Tava todo mundo lá e eu, com minha cara de pamonha segurando um copo com suco de laranja. 

-Deixa de ser frouxo, toma uma cervejinha ai cara!

Era o que sempre ouvia quando ia nesses lugares, por isso que odiava. Por que raios uma homem de 23 anos de idade não pode tomar seu suco tranquilamente? A sociedade diz que você precisa beber, usar drogas, tratar os outros de qualquer forma e coisas do tipo, para poder ser bem aceito nesse meio. Sinceramente, tô nem ai pra esse monte de merda...
Quando o suco está perto do fim, me deparo com uma moça que não parou de me olhar a festa inteira, não dei muita bola no começo, mas depois fiquei curioso. Será que... não pode ser, deve ser só minha imaginação mesmo. Volto pros meus pensamentos; segundos depois sinto um leve toque no meu ombro, e palavras são dirigidas a mim:

-Ei, moço... Você sabe que horas são?

Era ela! E agora, como procederia? Não posso estragar tudo, pensa cara, pensa!

-Err...Oi, tudo bem? Então, nossa, que surpresa, nós encontramos de novo...Aceita uma bebida?

Ergo o meu copo oferecendo-lhe minha bebida, ela olha e ri:

-Hahahahaha, não obrigada, não tô afim de suco agora.

Enrubesço. Sabia, estraguei tudo...

-Desculpa, é que eu sou meio assim, sabe?

-Não se preocupa, você é uma boa pessoa.

E foi assim que aquela festa começou a me parecer interessante, unicamente por causa dela. Pedia aos deuses que o mundo parasse de girar para que aquele momento se perpetuasse para todo o sempre. Creio que a gente se deu tão bem que o tempo sentiu inveja, ele ficou zangado e decidiu que era melhor ser mais veloz e passar rápido (pra mim). 
As vezes, a rotina nos prende de tal forma que ficamos cegos e propensos a deixar passar pequenos detalhes que nos são ofertados pelo destino. Coisas que podem mudar nossa vida de uma maneira bem interessante, para isso, basta apenas você se permitir enxergar. Daquele momento em diante, a única certeza que tive na vida era de que aquela moça, nunca mais fugiria do alcance do meu olhar.

Por isso que gosto de guarda-chuvas grandes. Quer vir comigo?

*Obrigado pela colaboração. Sei que não sou nenhum senhor do castelo, mas esse texto é pra você.

Comentários

Inoxidável Vida disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
C L O V I S disse…
Um conto para ler e reler e reler...
Rafael disse…
Nossa, valeu mesmo cara. Vindo do senhor, significa muito pra mim :D

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