Cin5o e M3ia
Terça-feira, 4 de abril de 1997 – 5 da
manhã
Quando o ranger dos primeiros raios
solares insistiam em bater contra o espelho que adorna meu quarto em conjunto
ao insistente barulho do despertador, no intuito de me acordar, eu já estava
desperta (e a um bom tempo, diga-se de passagem). 5 da manhã, é quando perco a paciência
e por fim decido me levantar. Estava ansiosa,
por quê? Esse sentimento de ansiedade me corroía já a um tempo, mas naquela
noite ele estava mais intenso, droga, tinha que tomar minha decisão, o tempo...
o maldito tempo estava se esgotando.
Voltei a ter 5 anos de idade. Sabe quando você quer muito
uma coisa e espera por ela ferrenhamente por um tempão? Até promete ser uma boa
menina sem fazer bagunça? É um verdadeiro exercício de paciência. E essa era a
virtude que mais me faltava. Deixe-me explicar melhor o motivo do meu infortúnio,
bem, em miúdos, fora me prometida à viagem que sempre quis fazer, outrora
estaria aos pulos de euforia, já teria arrumado minhas malas e rabiscado no
mapa todos os lugares que pretendia visitar nesse novo lugar. Mas, hoje, eu só
estava impaciente, justamente porque muito tinha mudado de uns tempos pra cá e
eu já não mais sabia se devia ir até lá. Maldito sentimento que tomava conta de
mim, como um verme que consome carne putrefata, essa dúvida consumia meu juízo (ou
o que tinha sobrado dele).
Dane-se! Eu vou! Sempre fui uma mulher
decidida, por que raios haveria de dar para trás agora? O lugar é bonito, paisagens
de se encher a vista. Não vou deixar de me divertir por causa de um babaca
qualquer. É ... bem, ele não era um babaca qualquer, era um babaca conhecido,
um babaca que outrora foi, pelo menos por uns instantes, mais do que um babaca.
Agora ele é somente um babaca, ou pelo menos e a essa ideia que quero me ater. Não
sei você, mas quando repito muito uma palavra, ela começa a perder o sentido,
pra mim, depois da segunda vez que foi pronunciada.
Comprei a passagem, agora não tem mais
volta. Seria muito azar encontrar com ele em meio a multidão, na verdade não
seria azar, seria tolice, isso sim. Por que raios haveria de querer me
encontrar com aquele babaca? E se por ironia do destino nos encontrássemos,
agiria com indiferença, isso mesmo, com a mesma indiferença que ele me trata
hoje em dia.
Enquanto as nuvens passavam pela janela em
que eu estava prostrada, meu pensamento ia longe, ele viajava mais rápido e
mais alto do que eu. Que droga, eu não sou assim, não deveria me importar tanto
com uma pessoa que nem ao menos tem a hombridade de se comportar como um
representante verossímil de sua espécie (gay!). Tudo o que vivemos foi mentira?
Como se confia em algo que não se palpa? Não sei, sinceramente não sei. Minha
vida já era suficientemente confusa antes dessas perguntas assolarem minhas
madrugadas. O término de minha jornada se aproxima, escrevo essas linhas a
apenas alguns quilômetros do meu destino final. Daqui de cima, o futuro que me
aguarda, lá em baixo, parece consideravelmente assustador. Enfim, findo essas
linhas com o desejo sincero de que algo mude. Ele me fez bem e tenho ciência de
que também o fiz. Ele me fez mal e também sei que eu mesma também o fiz. Cinco e meia.
Cheguei!
No portão
de desembarque, em meio a dezenas de cartazes com nomes das pessoas e afins, um
em especial me chama atenção, vou me aproximando. Quanto mais me aproximo, mais
o coração aperta, a garganta fica seca e o choro se torna eminente. Desisto, me
rendo. Agora que consigo ler o que lá está escrito. Como não haveria de sentir
algo. Babaca! Por que você faz isso comigo!?
- no cartaz dizia: "Ei, moça. Que horas são?" - |
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