O vento

O vento é volátil e efêmero.
Não se pode possuí-lo,
não é possível enclausurá-lo,
não se pode vê-lo,
só é possível senti-lo.
E no sentir é que vive o prazer,
de ser sentido.

Hoje ele sopra ao leste,
Amanhã oeste.
De norte a sul ele perece,
A procura de algo ou alguém que o interesse.

O vento não tem rumo,
ele é livre.
Vai e vem quando lhe convém.
Anda em busca daquilo que não contém.

Faz amigos,
acalanta crianças,
sopra as penas,
exala confiança,
carrega a vida,
semeia esperança.

Mas também é terror e exala o seu furor.
Em dias de fúria,
espalha lamúrias,
angústias,
dissipa a dor
e acende o rancor.

Perguntar-te-ei, então,
do fundo do meu coração.
Como podes tu,
apaixonastes por um elemento tão vão?

Com um sorriso no rosto,
algo assim, meio entreposto,
ouço a resposta surgir:

“-Sou capaz de amá-lo,
pois sou fadada a discernir,
aquilo que os olhos não podem ver,
daquilo que só o coração pode sentir.”

Posso ouvir o vento passar, assistir a onda bater, mas o estrago
que faz a vida é curta pra ver.
.

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